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07 Maio 2024

| diretor: Porfírio Silva

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Opinião

AUTOR

José Manuel dos Santos

DATA

15.09.2015

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O DEBATE

Diz-se que, em política, o que parece - é. Mas, às vezes, também o que é - parece. Ou melhor: aparece. E a televisão tem uma lente sem bondade que tudo amplia e revela, que nada esconde ou disfarça. Esse foi o drama de Pedro Passos Coelho no debate das televisões com António Costa. Aos olhos dos portugueses, ele pareceu o que é - e apareceu como é e como está. 

 

Diante de um António Costa com ânimo, Passos Coelho apareceu desanimado. Frente a um Costa naturalmente natural, ele exibiu-se artificialmente artificial. Confrontado com um Costa em crescendo, ele respondeu em diminuendo. Com um Costa ao ataque, ele não saía da defesa. Frente a um Costa em expansão, ele ficou em contração. Interpelado por um Costa indignado, ele mostrou-se resignado. Na presença de um Costa afirmativo, ele revelou-se justificativo. Face a um Costa forte, ele contentou-se em ser fraco. Desafiado pela voz firmemente convicta de Costa, a voz dele permaneceu vacilantemente monocórdica. Perante um Costa analisando o presente e propondo o futuro, ele perdeu-se no labirinto do passado. Comparado com um Costa concreto e concretizador, ele parecia vago e vácuo. Interpelado por um Costa com ideias, ele mostrou-se vazio delas. Defronte de um Costa que, às pessoas, falou das pessoas, ele conversou com fantasmas, sobre fantasmas. 

Neste debate, as palavras de Passos Coelho fizeram-se ainda mais baças. Os seus gestos ficaram ainda mais lassos. Os seus tiques eram ainda mais mecânicos. Os seus argumentos soaram a slogans repetidos. Sem razão e sem coração, sem chama e sem alma, sem impulso e sem ímpeto, Passos Coelho foi, num tempo a esgotar-se, a imagem esgotada de um governo esgotado, que nem a rapidez nervosa de Paulo Portas consegue impedir que seja irrevogável (aliás, o debate com Catarina Martins também correu mal ao líder do CDS). 

É por isso que o frente-a-frente entre António Costa e Pedro Passos Coelho não acabou quando acabou. Vai durar até ao fim da campanha, como um símbolo, uma confirmação e um alerta. Prolongá-lo, fazê-lo durar é, por isso, um dever nosso perante nós mesmos e perante o País. É que este debate, e o que ele mostrou, é o melhor antídoto à indecisão dos indecisos, o melhor remédio para a hesitação dos hesitantes, o melhor fundamento para o convencimento dos convencidos do PS e o melhor veneno para gerar a dúvida nos convertidos da Coligação. 

Já agora! Repararam como o sorriso de Pedro Passos Coelho, quando era apanhado em falta, em falha ou em falso, ficava igual ao sorriso gaguejante de Jim Hacker, esse terrível primeiro-ministro da série “Yes, Prime Minister” ?! E é bom não esquecer que essa sagaz série cómica da BBC aproximou mais os cidadãos da política do que tantas palavras que, sobre o tema, têm sido ditas e escritas. Aproximou-os “daquela” política, para se rirem dela. Esse também não é dos menores méritos do engasgado sorriso televisivo que atravessava a cara de Passos Coelho ao longo desse, para ele, interminável debate.

AUTOR

José Manuel dos Santos

DATA

15.09.2015

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EDIÇÃO Nº1418
Janeiro 2024