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27 Mar 2024

| diretor: Porfírio Silva

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Opinião

AUTOR

Ascenso Simões

DATA

07.01.2016

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SINAIS

O início do novo ano traz, sempre, a tradição do “cantar as janeiras”. Cada povo tem os seus costumes, que se revelam em manifestações etnográficas. As Janeiras são, por norma, só cantares, porque os tempos frios, de chuva e neve, e as casas pequenas e térreas, não permitiam danças em pleno inverno rigoroso. 

 

Grupos tradicionais vieram cantar ao Presidente da República, ao Primeiro-Ministro e ao líder da oposição. As televisões fizeram bem em dar conta desses momentos nos jornais da noite. Porque uma imagem vale mais que mil palavras, porque um fácies transporta, para cada português, uma ideia concreta do ato vivido. 

O Presidente da República, em final de mandato, não conteve a emoção. Trata-se de um dos últimos atos em que Cavaco Silva estará presente. Sabemos, pelo desmaio de 1995 quando passou a pasta a Guterres, o que lhe custa deixar o poder, a saudade que o assalta. E há uma razão só para isso – o poder sempre foi ele, na sua intrigante serigrafia de Sebastião. Cavaco Silva não sai com a alegria do dever cumprido, a nostalgia não deixa que isso aconteça. 

O líder da oposição, até há pouco primeiro-ministro, recebeu, na São Caetano, um outro grupo. Na peça podemos constatar o seu incomportável papel, a impossibilidade prática, para fazer desse momento, um ato de cordialidade, de proximidade, de bonomia. 

Na sua intervenção, longa como sempre, assumiu o papel de velho pai tirano, que olhando para o filho de diz – bati-te muito, por vezes com cinto e até com régua, mas foi para teu bem. Agradecer a um grupo de cantares a sua vinda a Lisboa, oferecendo o tempo mau em que liderou o Governo, é mesmo o que não se pode pedir ao político que não ter entendido nada do que se passou no dia 4 de outubro. 

Por último, a receção que o Primeiro-Ministro, concedeu aos cantores de Vila Nova de Gaia. Não existiu exuberância, só generosidade. Não existiu recado, só mensagem de esperança. Não existiu “ralhete”, só agradecimento. 

António Costa, no seu jeito para a música, não conseguiu, até, acompanhar o ritmo de uma moda que lhe estava a ser cantada. São assim os grandes homens, não se refugiam num fato à medida, ocultando insuficiências e tentando passar um outro “eu”. 

Houve, contudo, duas linhas na mensagem que importa consagrar. A primeira, a de que Portugal precisa de todos, que importa trazer normalidade e alegria à vida comum; a segunda, a de que importa voltar a fazer um país em que todos possam viver melhor, sem aventuras e sem deslizes. Mesmo que a dificuldade dos dias se venha a revelar, é muito mais interessante ter um chefe de governo que nos fala com um sorriso do que alguém que nos transporta a inevitabilidade da pequenez. 

 

AUTOR

Ascenso Simões

DATA

07.01.2016

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EDIÇÃO Nº1418
Janeiro 2024